Atualizando a descrição do blog: Tive a intenção de criar este blog para divulgar conceitos, fatos históricos, curiosidades e outros temas sobre a grande ciência física. Existem muitos outros blogs sobre o assunto, mas a minha intenção principal é tentar escrever sobre assuntos de física vistos na graduação ou de pesquisa física para o público geral. Minhas ideias sobre temas para as colunas surgem de textos e artigos que vou lendo ao longo do meu trabalho acadêmico. Discussões são sempre bem vindas!
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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Das ondas gravitacionais aos grávitons, passando pela detecção feita pelo LIGO

Este é um momento muito importante para a Física. A equipe do LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Waves Observatory) anunciou ter detectado diretamente pela primeira vez ondas gravitacionais. Mas afinal o que são ondas gravitacionais, qual sua relevância na Física, como foi realizado o experimento de detecção e, por último, o que o gráviton tem a ver com isso tudo? Ao longo do texto abordaremos estas questões.

1   1 -     O que são ondas gravitacionais?

Ondas gravitacionais foram previstas pela teoria da relatividade geral (TRG) de Einstein em 1915. Como qualquer teoria cientifica, a TRG explicou de maneira mais fundamental alguns vários fenômenos da Física da época e fez predições de fenômenos a serem verificados. Entre estes está a predição de que sob a influência do campo gravitacional a luz sofre alteração do seu percurso, já verificada em 1919. Outra predição são as ondas gravitacionais.
Para entendermos o que são estas ondas, podemos fazer uma analogia direta com as ondas eletromagnéticas. A teoria eletromagnética diz que qualquer corpo carregado eletricamente, ao ser acelerado, irá emitir ondas eletromagnéticas, ou radiação. Da mesma forma, a TRG prevê que qualquer corpo que tenha massa, ao ser acelerado, irá emitir ondas gravitacionais. Ambas, ondas eletromagnéticas e gravitacionais, são caracterizadas pela frequência e o comprimento de onda. As equações de Maxwell da teoria eletromagnética descrevem as ondas eletromagnéticas. Analogamente, as equações de Einstein da TRG descrevem as ondas gravitacionais. Ao contrário destas últimas, sabemos que as ondas eletromagnéticas são detectáveis há muito tempo. Por que motivo não havia sido detectado ainda ondas gravitacionais?
A razão para isso é que, comparado com a intensidade da interação eletromagnética, a intensidade da interação gravitacional é extremamente fraca! Isso leva ao fato de que um aparelho destinado a detectar ondas gravitacionais deva ser muito sensível, de modo a poder captar os menores sinais destas ondas. Os melhores candidatos a emitirem ondas gravitacionais detectáveis com os instrumentos atuais são buracos negros, estrelas de nêutrons, supernovas, etc. Além destes, o evento conhecido como Big Bang também é um candidato a ter emitido ondas gravitacionais, por se tratar de uma concentração muito grande de massa que se acelerou (explodiu) a uma taxa muito alta. Outra dificuldade é que eventos que produzem ondas gravitacionais mensuráveis ocorrem com uma frequência muito baixa.

2    2-     Qual a importância das ondas gravitacionais?

A primeira importância de se detectar ondas gravitacionais é obviamente que ela comprova a solidez da teoria da relatividade geral no que ela se propõe a explicar e seus conceitos básicos. No entanto, sua detecção tem um significado muito mais relevante para a Física. Voltemos novamente à analogia com ondas eletromagnéticas. O desenvolvimento tecnológico de instrumentos emissores e detectores que utilizam ondas eletromagnéticas possibilitou a construção de grandes telescópios, o que teve como consequência a observação de um Universo até então desconhecido, além de possibilitar descobertas astronômicas de forma indireta, como vários planetas que são descobertos fora do sistema solar. No entanto, existe uma limitação física para a observação do Universo em tempos remotos utilizando ondas eletromagnéticas. Durante os primeiros 300 mil anos após o Big Bang estas ondas, ou fótons, ficaram presas a outras partículas, pois a temperatura do Universo era muito alta, impedindo que os fótons se desacoplassem do resto da matéria recém formada. Deste modo, é impossível visualizar como era o universo durante este período, acarretando mais especulação do que certezas durante os primeiros 300 mil anos do Universo. Porém, prevê-se que ondas gravitacionais existam desde os primeiros segundos de vida do universo, e sua detecção poderia ser muito útil para entender este período. Mas não devemos confundir as ondas gravitacionais que foram detectadas com aquelas do início do Universo. Como são fontes diferentes, as ondas geradas também são diferentes, o que nenhum pouco diminui a importância da detecção verificada pela equipe do LIGO. Com a detecção de ondas gravitacionais, uma ampla janela se abre no que diz respeito a pesquisas observacionais do espaço.

3    3 -     A detecção de ondas gravitacionais pelo LIGO

O objetivo da equipe do LIGO era detectar ondas gravitacionais através de um interferômetro. Este equipamento, utilizado em muitas outras áreas da Física, permite que um feixe de luz possa ser separado e, ao se recombinar, efeitos possam ser verificados. Por exemplo: suponha que emitimos um feixe de luz e através de um espelho semitransparente, metade da luz continua seu percurso e a outra metade seja refletida em 90 graus, como ilustra a figura abaixo.



Se, por algum motivo, o espelho 1 ficar a uma distância maior do espelho transparente do que o espelho 2, poderá haver uma defasagem entre as duas componentes do feixe original. Ao se recombinarem e serem detectadas no anteparo, esta defasagem será observada através do que se chama franja de interferência.
A suposição de que ondas gravitacionais distorcem o espaço-tempo (onde todas as coisas do universo estão), levou os pesquisadores a terem a ideia de que, se em algum ponto do universo ocorresse um evento que gerasse uma onda gravitacional, esta distorção iria acarretar em uma leve diferença entre os caminhos percorridos pela luz laser ao atingirem o espelho semitransparente e seria observada como uma defasagem quando a luz se recombinasse. Obviamente que a distorção seria extremamente pequena, e para isso os instrumentos deveriam ser altamente sensíveis. Visando isso, os cientistas construíram um gigantesco interferômetro, mostrado na figura abaixo.



O interferômetro para observar ondas gravitacionais, localizado nos Estados Unidos, é composto por dois detectores distantes 3000 quilômetros um do outro, que são capazes de detectar uma variação (distorções no espaço-tempo) 10000 vezes menor do que o núcleo atômico. Além disso, cada braço do interferômetro mede 4 quilômetros.

O evento que deu origem à onda gravitacional detectada pelo LIGO foi a colisão entre dois buracos negros. A teoria da relatividade geral prevê que um par de buracos negros orbitando um ao outro perde energia emitindo ondas gravitacionais. Embora previsto pela teoria, tal evento nunca havia sido observado. A importância da detecção pode ser representada nas palavras de Kip Thorne, um físico teórico especialista da área:

“Com esta descoberta, nós humanos estamos embarcamos em uma maravilhosa nova busca: a busca por explorar o lado deformado do Universo – objetos e fenômenos que são produzidos devido à deformação do espaço. Buracos negros colidindo entre si e ondas gravitacionais são os primeiros belos exemplos” 
(Tradução do autor)

4    4-     O que o gráviton tem a ver com isso?

 O gráviton é um elemento chave em qualquer teoria física que tenha como objetivo unificar a gravidade com outras interações da natureza, a saber, o eletromagnetismo, a interação forte e fraca. Novamente, vamos fazer uma analogia. Como já dito, as ondas eletromagnéticas são detectadas e usadas há muito tempo. Com o advento da mecânica quântica, no começo do século passado, verificou-se que a energia não era transferida de forma continua, mas sim de forma discreta, ou seja, em forma de pequenos pacotes, conhecido como fótons. Fótons são, portanto, pequenas quantidades de energia. A conclusão que se chegou é que as ondas eletromagnéticas, que transportam energia, são então constituídas por fótons. Dizemos então que os fótons são a quantização das ondas eletromagnéticas. Isto faz com que a teoria eletromagnética e a mecânica quântica se conciliem.
Entretanto, a interação gravitacional ainda não passou por este estágio, ou seja, a teoria da relatividade geral, que explica interação gravitacional, é uma teoria clássica, não quântica. Uma teoria que quantize a gravidade deve necessariamente quantizar as ondas gravitacionais. Deste modo, os “pacotinhos” da interação gravitacional deveriam existir. Embora ele não tenha sido detectado, seu nome é gráviton.
Se formos pensar na ordem cronológica do eletromagnetismo, devemos estar no caminho certo. Primeiro detectamos as ondas eletromagnéticas e depois verificamos a existência dos fótons.  Assim, a detecção das ondas gravitacionais pode ser um passo essencial na busca por uma teoria que unifique todas as interações conhecidas da natureza.

Fonte:


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

5 Fatos Sobre a Mecânica Quântica que você deve e pode saber

Veja o vídeo do texto abaixo:





A Mecânica Quântica (ou Física Quântica) é uma das teorias físicas que desperta maior interesse pelas pessoas, sejam elas especialistas ou leigas. Para os leigos ela pode ser apresentada sob diferentes formas, seja como uma teoria física para explicar fenômenos atômicos, seja como uma proposta para curar doenças (Cura Quântica), ou outra forma não científica qualquer. Este texto tem a intenção de apresentar 5 fatos que você deve e pode saber sobre a Mecânica Quântica, uma dentre várias teorias físicas para descrever fenômenos da natureza.

1) A Mecânica Quântica não é uma extensão da Mecânica Newtoniana (Clássica) para fenômenos atômicos

Algumas pessoas pensam na mecânica quântica como sendo uma "mecânica Newtoniana" para fenômenos atômicos. Entretanto, os conceitos presentes na teoria clássica e na teoria quântica são completamente diferentes. Os conceitos de trajetória de uma partícula, partícula como um ponto com dimensões fixas, determinismo e muitos outros são abandonados na teoria quântica. Em resumo, a teoria quântica possui a probabilidade como algo intrínseco na teoria, enquanto a teoria Newtoniana é por definição uma teoria determinística. Isto mostra que a mecânica quântica não é de forma alguma uma extensão Newtoniana para fenômenos atômicos, e sim uma teoria completamente nova por construção.

2) A Mecânica Quântica não é apenas uma Teoria

Por ela ser uma teoria que se diferencia muito do nosso cotidiano, muitas pessoas acham que a teoria quântica não tem nenhuma aplicação na sociedade e que sua atuação reside apenas no campo das ideias. Isso não é nem de longe verdade, pois nossa sociedade é amplamente suportada por avanços tecnológicos possíveis graças ao desenvolvimento da mecânica quântica. Como exemplo, podemos citar a luz LASER, o LED (em especial o led azul), vários componentes eletrônicos como o transistor, e o computador quântico.

3) A Mecânica Quântica não é Religião nem Misticismo

Ao contrário do que algumas pessoas que dizem entender mecânica quântica afirmam, a teoria não tem nada de místico e muito menos de religioso. A religião e outras formas místicas de pensamento se baseiam em uma fé sem a necessidade de uma prova. A mecânica quântica, tal como qualquer outra teoria científica, foi construída visando descrever fenômenos da natureza. Portanto, ela possui argumentos sólidos e passíveis de serem testados em laboratório, diferentemente de qualquer tipo de religião e misticismo.

4) A Física Quântica não cura você

Não, a física quântica e seus poderes mágicos não irão curar você, nem fisicamente e muito menos espiritualmente. Da mesma forma que outras teorias da Física, a mecânica quântica pode e é muito útil para desenvolver aparelhos que ajudem no tratamento de inúmeras doenças. Mas isso para a medicina séria. A mecânica quântica não irá curar sua depressão, seus problemas emocionais, independentemente de quantas pedras quânticas ou quantos pseudo-médicos que afirmem usar a "cura quântica" você consultar. Portanto, se não quiser perder seu dinheiro com pessoas que não sabem nada de ciência e sim como enganar outras pessoas, não caia nessa.

5) A Mecânica Quântica não faz com que você possa estar em dois lugares ao mesmo tempo nem possa estar emaranhado com outra pessoa


Talvez este seja um dos erros de interpretação que mais acontece entre pessoas leigas e pessoas que desejam passar o conteúdo da mecânica quântica sem se ater ao real conteúdo da teoria. Alguns filmes, como Quem Somos Nós, vídeos do youtube ou textos de pessoas que dizem entender a mecânica quântica mas que nunca fizeram uma graduação em Física, afirmam que a teoria quântica e suas propriedades, como emaranhamento e superposição de estados são válidas também no nosso cotidiano e afetaria nós, humanos. Isto não é verdade! A própria teoria quântica nos diz que a medida que aumentamos o número de átomos em um sistema físico, ele perde suas características quânticas e passa a se comportar como um sistema clássico, regido pelas leis da física clássica. Portanto, no nosso dia-a-dia, com objetos macroscópicos a nossa volta, a teoria quântica não se aplica. Você não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo e muito menos emaranhado a outra pessoa, a não ser que seja através de um casamento :)